O editor da Folha, que se deleitou com a grosseria, já entendeu que aquilo foi um desastre. Tanto que não voltou ao assunto, jogou para debaixo do tapete.
Não pela vergonha do que foi feito – com o aplauso entusiástico do
editor da Folha – mas porque o efeito eleitoral vai ser o contrário
daquele que a Folha almeja.
A Folha queria dar a entender que as ofensas:
1 – exprimem a queda de popularidade da presidente, o que vai, oba!, se refletir no voto de outubro.
2 – aconteceram por culpa da própria Dilma,
que ousou cumprir o papel de anfitriã da festa e compareceu ao
Itaquerão, sabendo, como dizia Nelson Rodrigues, que brasileiro vaia até
minuto de silêncio.
Mas aquilo não foi vaia, foi barbárie. O repúdio foi tão grande que o
editor da Folha já está avaliando se valeu mesmo a pena vaiar e
ofender.
As ofensas nasceram no camarote
do Itaú. A colunista social do Estadão puxou o coro grotesco e
deselegante. A grosseria foi vip. Gente que, no fundo, tem desprezo pelo
futebol como tem desprezo pelos pobres, pelos negros e pelos nordestinos. Gente que estava ali apenas para se mostrar.
A ofensa vip externa um ódio de quem já tem ódio. Não acrescenta um
voto. Pode, ao contrário, definir o quadro eleitoral numa moldura de
guerra de classes,
os ricos vaiando, com suas ofensas vip, e os pobres, perplexos,
elegantes em sua solidariedade a uma mulher que, querendo-se ou não,
como chefe de Estado merece respeito.
Dilma lembrou a tortura e disse que já passou por coisas piores. O
camarote vip que ofendeu Dilma teria aplaudido a tortura – se é que não
teve gente ali que, à época, de fato apoiou (os jornalões dos clãs
oligárquicos, não custa lembrar, eram a favor da ditadura).
Prevalecendo esse Fla-Flu social, Dilma vence. O camarote do Itaú não ganha eleição.
A colunista social do Estadão não ganha eleição. O editor da Folha e
aqueles seus colunistas da era Cro-Magnoli, com sangue nos olhos e baba
na boca, não ganham eleição.